[exposição coletiva]

Sublime Spirit


New York, 2024 | Marianne Boesky Gallery

Espírito Sublime

Apresentando obras recentes — todas produzidas nos últimos três anos — de Nicola Bailey, Kim Booker, Mirela Cabral, Hadi Falapishi, Luiza Gottschalk, Thalita Hamaoui, Jay Heikes, Oliver Hemsley, Dora Jeridi, Nathalie Khayat, Antonio Ballester Moreno e Mari Ra, a exposição Espírito Sublime investiga o desejo profundamente humano de escapar do mundo que nós mesmos cons - truímos. Inspirando-se no assombro característico do Romantismo do século XVIII e na reverência transcendentalista do século XIX, os 12 artistas aqui reunidos elaboram uma visão do instintivo e do indomado a partir de uma sensibilidade contemporânea. Nessas paisagens — evocadas da memória ou da imaginação, trabalhadas por meio de gestos expressionistas e dinâmicos ou construções geométricas meticulosas — o mundo natural se afirma e se perpetua, suprimindo os resquícios do artifício humano e revelando a potên - cia arrebatadora da força vital da natureza.

Trabalhando com paisagens abstratas e uma linguagem visual de formas ge - ométricas depuradas, Antonio Ballester Moreno (n. 1977, Madri, Espanha) e Mari Ra (n. 1996, São Paulo, Brasil) aludem a uma lógica interna e orgânica própria da natureza. Reapropriando-se da linguagem da abstração geomé - trica, Ballester Moreno representa o sol — em ascensão ou declínio — em gradações cromáticas que atravessam múltiplas linhas do horizonte. Em uma escultura de pequena escala, sua geometria celeste ganha tridimensionali - dade, embora as formas — sóis e luas — permaneçam graficamente planas. Já Mari Ra constrói paisagens com formas indefinidas e essencializadas, conferindo presença ao espaço negativo e sugerindo os fluxos invisíveis da natureza.

Luiza Gottschalk (n. 1984, São Paulo), Mirela Cabral (n. 1992, Salvador), Tha - lita Hamaoui (n. 1981, São Paulo) e Nathalie Khayat (n. 1966, Beirute) recor - rem à cor intensa e ao gesto expressivo para explorar o universo natural em sua dimensão orgânica e imersiva. Em uma série de pinturas inspiradas nas estações do ano — Primavera, Verão, Outono e Inverno — Gottschalk dá for - ma à reinvenção cíclica dos elementos. Nas obras de Cabral e Hamaoui, ve - getações fabulosas e imaginárias compõem florestas densas que absorvem quaisquer vestígios do mundo humano. Em suas peças de porcelana de formas ondulantes, Khayat encarna os contrastes da natureza — calma e violência, nascimento e decomposição, vida e morte.

Kim Booker (n. 1983, Reino Unido), Dora Jeridi (n. 1988, Paris) e Jay Hei - kes (n. 1975, Princeton, EUA) investem suas paisagens com uma ansie - dade existencial tangível. Nas pinturas de grandes dimensões de Booker, figuras femininas esboçadas parecem se fundir à vegetação, como se desejassem retornar ao solo. Jeridi, por sua vez, traduz uma inquietação difusa — social e ambiental — com cores vívidas e linhas incisivas. Heikes expressa um mal-estar visceral sobre o destino do planeta: elementos naturais se transformam uns nos outros — cactos tornam-se recifes, que viram cordilheiras dramáticas sob um sol gasoso e opaco. Em seus novos lírios de alumínio anodizado, a sensação é de decomposição diante do olhar.

Na obra de Nicola Bailey (n. 1965, Durban, África do Sul), Hadi Falapishi (n. 1987, Teerã, Irã) e Oliver Hemsley (n. 1987, Cambridgeshire, Reino Uni - do), o sublime emerge da relação íntima entre seres humanos e animais. Com pinturas e esculturas em bronze, Bailey retrata cães adormecidos com afeto silencioso. Nos quadros e cerâmicas de Falapishi, animais ex - pressivos — de traço quase infantil — remetem à admiração pura com que as crianças vivenciam a natureza. Nas composições densamente texturi - zadas de Hemsley, surgem momentos de ternura: um cão segura um pei - xe com cuidado; uma mão humana acaricia a pata de um cão — imagens que falam dos vínculos sensíveis entre os reinos humano e animal.

“Para onde quer que olhemos,” escreveu a poeta Maxine Kumin sobre sua contemporânea Mary Oliver, “vemos Oliver estendendo a mão para o inalcançável, enquanto agradece por ele ser inalcançável. Ela permanece à vontade nas margens das coisas, na linha entre céu e terra, naquela fina membrana que separa o humano daquilo que vagamente chamamos de animal.”

Os artistas que integram Espírito Sublime fazem algo semelhante ao almejar uma conexão com o indomado — talvez evocando uma memória ancestral, compartilhada, de um tempo em que éramos todos parte de um mesmo todo. Ao fim, a exposição nos recorda que nós também pertencemos à natureza — e que essa mesma natureza que buscamos também nos chama de volta. Como os gansos selvagens nos versos de Oliver, ela nos convoca a retornar.