[exposição individual]
Caminhos e percusos das águas
São Paulo, 2021 | Casa Por-do-sol
Texto curatorial por Marcos Moraes
Caminhos e Percursos das Águas
Prólogo
Tudo se inicia - como se fosse possível uma narrativa aparentemente coeren - te - com um convite para uma visita ao ateliê, uma proposta para conhecer um espaço e uma casa que tem sua concepção, sua localização, e uma pro - posição com sentido especial, tanto para quem nela atualmente vive, como para quem a projetou, construiu e implantou em meio ao que podemos cha - mar de uma “memória da natureza.
Além da localização urbana privilegiada, bem como sua configuração, na pró - pria cidade, que foram pontos relevantes da conversa, essa ainda foi pontua - da pelas narrativas de Luiza Gottschalk sobre as relações de seus processos de trabalho, sua vida e o convívio com esse espaço, que é a Casa do pôr do Sol. Nada tão definidor, ou mesmo, sem muitos contornos delimitadores mas isso foi, de uma certa forma, o ponto de partida, o início mesmo, dessa tro - ca, na verdade de um diálogo, postergado por algum tempo e que, por final, justamente em meio ao isolamento no qual estamos agora mergulhados, em função da pandemia, acabou por se constituir, em uma possibilidade, talvez mesmo uma necessidade de contar, ou de relatar o desejo de realização de um projeto que, agora, não mais poderia ser realizado.
A conversa deveria ter acontecido - por diversas vezes - há meses e ela conduziria a um convite para trabalhar com a artista, na organização de uma possível exposição, e que seria apresentada, de alguma forma, na própria Casa do por do Sol. O acaso, ou o imponderável, se manifestou fazendo com que “aquilo que foi pensado para ser o projeto de construção e habitação para a vida”, a Casa, tivesse que tomar outros rumos. Sair da Casa do por do Sol em poucos dias encerraria a possibilidade de elaborar e desenvolver um projeto dessa natureza.
A Casa foi literalmente plantada naquela porção de terra, e a natureza instada a participar, decisivamente, em que paredes, pisos e instalações foram se erguendo e implantando juntamente com as bananeiras e tantas outras árvores, arbustos, plantas, vegetação, tudo aquilo que agora não estaria mais disponível e, em poucas semanas deveria ser desocupada.
Muitos outros acasos – e desejos - se reuniram levando, literalmente, Luiza e família a abrirem mão do espaço de vida e de trabalho, incluindo o do ateliê. Assim, o que seria inicialmente uma conversa para um convite de trabalho conjunto foi, na verdade, apresentado, agora, como uma im - possibilidade, tornando-se, portanto, o relato de um possível projeto, uma utopia que havia sido abandonada, ou simplesmente não poderia mais ser realizada, naquelas condições. De qualquer forma isso não significava uma frustração, pois tratava-se de novos rumos e novos projetos de vida que se abriam, como horizonte do possível.
A partir daqui cada cena e o espaço no qual ela se desenrola permitem uma aproximação à ideia do percurso, são como as estações nos autos medievais, ou os mirantes nas trilhas da floresta, portanto o convite para a caminhada em direção ao topo, ao “ninho da águia” de onde o mundo se descortina.